A mudança climática e as duas Amazônias
O clima está mudando na maior floresta tropical do planeta — a Amazônia. No Brasil, a floresta abriga área equivalente à metade do território nacional, onde chove pelo menos 2 mil milímetros (mm) por ano e a temperatura média atinge 27 ºC. Com cerca de 20% de sua área original de floresta desmatada, boa parte dessa região dá sinais de que está se tornando mais quente e mais seca. Esses efeitos são mais sentidos nas porções que sofreram desmatamento e em suas vizinhanças, concentradas, mas não restritas, às bordas sudoeste, sul e leste. Naturalmente mais úmido e mais preservado, talvez por ser de acesso difícil, o noroeste da Amazônia resiste ainda relativamente bem às pressões naturais e às ações do homem. Se essas tendências se exacerbarem ou mesmo se mantiverem nas próximas décadas, as duas Amazônias, que hoje são esboços, poderão ganhar contornos mais definitivos e contrastantes até meados deste século. A grosso modo, haveria uma floresta clássica, chuvosa, com uma densa vegetação tropical, que começaria a oeste de Manaus e entraria pelos países vizinhos até atingir as proximidades dos Andes. A segunda Amazônia, que estaria a leste e sul da capital amazonense, dentro do território brasileiro, seria a materialização dos temores da maioria dos estudiosos do clima e da ecologia: fragmentada e parte savanizada, com um período mais prolongado de seca, em que suas antigas áreas de floresta teriam sido tomadas pela esparsa vegetação do Cerrado ou por atividades agropecuárias.
Rita Nardy
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